De ideias políticas de caráter liberal e defensor do abolicionismo, forneceu os recursos financeiros necessários à defesa de Montevidéu quando o governo imperial decidiu intervir nas questões platinas (1850).1 Contrário à Guerra do Paraguai, foi deputado pela Província do Rio Grande do Sul em diversas legislaturas (1856, 1859-1860, 1861-1864, 1864-1866 e 1872-1875), tendo renunciado ao mandato em 1873 para melhor cuidar de seus negócios, ameaçados desde a crise bancária que se iniciara em 1864.
Teve influência política no Uruguai desde 1850, quando a pedido do amigo Paulino José Soares de Sousa, visconde do Uruguai e então Ministro dos Estrangeiros, ajuda financeiramente os liberais sitiados em Montevidéu. Lá suas ações passaram a receber favores ou revezes, de acordo com o domínio de blancos ou colorados.
No Brasil, mesmo eleito pelo Partido Liberal, apoiou o gabinete de seu amigo visconde do Rio Branco (1871-1875).
A combinação das suas ideias, juntamente com o agravamento da instabilidade política da região platina, tornou-o alvo das intrigas dos conservadores. As suas instalações passaram a ser alvo de sabotagens criminosas e os seus negócios foram abalados pela legislação que reduziu as taxas de importação sobre as importações de máquinas, ferramentas e ferragens (tarifa Silva Ferraz, 1860). Com a falência do Banco Mauá (1875), pediu moratória por três anos, sendo obrigado a vender a maioria de suas empresas a capitalistas estrangeiros e ainda os seus bens pessoais para liquidar as dívidas.
Doente, minado pelo diabetes, após liquidar as suas dívidas, encerrou um capítulo da sua vida empresarial. Com o pouco que lhe restou e o auxílio de familiares, dedicou-se à corretagem de café até falecer[carece de fontes], aos 76 anos de idade, em sua residência na cidade de Petrópolis poucas semanas antes da queda do Império. Seu corpo foi trazido à corte de trem, pela mesma estrada de ferro que construíra anos antes, e sepultado no mausoléu de sua família (hoje em ruínas), no Cemitério de São Francisco de Paula, no bairro do Catumbi.
A VISÃO EMPRESARIAL DE IRENEU
Convivendo em uma sociedade rural e escravocrata, o contato com a mentalidade empresarial britânica que, nos meados do século XIX, gestava a segunda fase da Revolução Industrial, foi determinante para a formação do pensamento de Mauá.
O seu estilo liberal de administrar era personalíssimo para o Brasil, país acostumado à forte centralização monárquica que o Poder Moderador, expresso na Constituição de 1824, havia reafirmado. Sua característica principal, em qualquer setor econômico que atuou, foi o pioneirismo.
Com menos de trinta anos, já possuía fortuna que, segundo ele próprio, "assegurava [a ele] a mais completa independência".
Os seus primeiros passos como empresário foram marcados pela ousadia de projeto, apostando no emprego à tecnologia de ponta. Em toda a sua carreira preocupou-se com a correta gestão de recursos, marcada por uma administração descentralizada, onde a responsabilidade de cada indivíduo na cadeia de comando era valorizada. A sua política salarial expressava, em si própria, um investimento nos talentos de seus empregados, tendo sido pioneiro, no país, na distribuição de lucros da empresa aos funcionários. Em complemento, incentivava os seus colaboradores mais próximos a montar empresas e a fazer negócios por conta própria. O nível de gerência era contemplado com créditos e apoio logístico para operar os empreendimentos, o que combinado com a autonomia administrativa e com a participação nos lucros, permitia fazer face à maioria das dificuldades.
Desse modo, Mauá controlou oito das dez maiores empresas do país: as restantes eram o Banco do Brasil e a Estrada de Ferro Dom Pedro II, ambas empreendimentos estatais. Chegou a controlar dezessete empresas, com filiais operando em seis países. Sua fortuna em 1867, atingiu o valor de 115 mil contos de réis, enquanto o orçamento do Império do Brasil para aquele ano contava apenas com 97 mil contos de réis. Estima-se que a sua fortuna seria equivalente a 60 bilhões de dólares, nos dias de hoje.
Mauá também foi muito conhecido por suas ideias contrárias à escravidão, o que o distanciava das elites políticas do Império, o que se ressentiu indiretamente nos seus interesses comerciais. Com o passar dos anos, Mauá foi se afundando em dívidas, pois sempre que não conseguia recursos, fosse através de subscrições, ou através do apoio financeiro do governo, lançava mão das reservas de sua base de operações: o Banco Mauá & Cia.
HOMENAGENS
No dia 1 de maio de 1910 a prefeitura do então Distrito Federal inaugurou um monumento público em homenagem a Mauá. Uma estátua em bronze do Visconde em tamanho natural sob uma coluna de granito de cerca de oito metros de altura, de autoria do escultor Rodolfo Bernardelli, foi colocada no centro da Praça Mauá, próximo ao cais do porto carioca.
No dia 1 de junho 1914 Foi fundada a Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá no bairro de Marechal Hermes, Rio de Janeiro (Hoje faz parte da rede FAETEC)
Em 1926 foi inaugurado o prédio da Estação Barão de Mauá, início da Estrada de Ferro Leopoldina (hoje abandonada).
Em 1936, a Casa da Moeda do Brasil lançou uma moeda de cupro-níquel comemorativa de 200 réis (série "Brasileiros Ilustres") com a efígie de Mauá no verso e da locomotiva "Baronesa" no anverso, com reedições em 1937 e 1938.
Em 1963, os Correios brasileiros emitiram selo com a imagem do Visconde (Barão) de Mauá.
Em 2010, os Correios brasileiros emitiram o selo comemorativo alusivo aos 150 do Ministério dos Transportes, com a imagem do Barão de Mauá (considerado Patrono dos Transportes).
Em 2013, por ocasião de seu bicentenário, na PUCRS, Porto Alegre, aconteceu evento comemorativo à data que contou com inauguração de Busto de Mauá na Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia - FACE - da PUCRS (cujo Centro Acadêmico leva, desde 1931, o nome de "Visconde de Mauá"), lançamento de Troféu aos melhores estudantes, a ser concedido anualmente, premiação a figuras do mundo acadêmico e industrial e lançamento do livro Mauá: paradoxos de um visionário - obra comemorativa dos 200 anos de nascimento do Visconde de Mauá.
Diversas escolas de samba desenvolveram enredos referindo Irineu Evangelista de Sousa. No carnaval do Rio de Janeiro, em 1963 o GRES Portela com o enredo "Barão de Mauá e suas Realizações", ficou em 4º lugar no Grupo Especial,11 12 e, em 2012, a GRES Acadêmicos do Cubango, com o enredo "Barão de Mauá - Sonho de um Brasil Moderno" obteve o 4º lugar no Grupo Acesso A.
Na terra natal do personagem, a Escola de Samba Unidos da São Gabriel homenageou-o em 1992 com o enredo "O Apito do Trem", vindo a ser campeã naquele ano.
CRONOLOGIA
1813 (28 de dezembro): Nasce Irineu Evangelista de Sousa, na localidade de Arroio Grande, distrito de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, fronteira com o Uruguai.
1819: O pai, João Evangelista de Ávila e Sousa, estancieiro e criador de gado, é assassinado por ladrões de gado.
1820: Irineu é alfabetizado pela própria mãe, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, de quem recebe os primeiros ensinamentos de português e matemática.
1821: A mãe e viúva, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, vem a se casar com João Jesus e Silva, que não deseja relação com os filhos do casamento anterior, e Irineu é entregue à guarda do tio Manoel José de Carvalho.
1822: Após o casamento da mãe, Irineu, aos 9 anos, parte em viagem com outro tio, José Batista de Carvalho, capitão de navio, para o Rio de Janeiro.
1824: Trabalha como caixeiro na loja de tecidos do comerciante português Antônio Pereira de Almeida.
1828: Promovido a guarda-livros, aos 15 anos, na casa comercial de Antônio Pereira de Almeida.
1829: Com a falência de Antônio Pereira de Almeida, Irineu é admitido na empresa importadora do comerciante escocês Richard Carruthers.
1836: Torna-se gerente da casa comercial Carruthers & Cia.
1837: Com o retorno de Richard Carruthers à Inglaterra, Irineu permanece à frente do negócio como sócio.
1839: A irmã de Irineu, Guilhermina, domiciliada no Rio Grande do Sul, vem para o Rio de Janeiro para morar com ele, trazendo sua filha e sobrinha de Irineu, Maria Joaquina de Sousa, a "May";
1840: Irineu realiza a primeira viagem à Inglaterra a negócios, onde conhece a nova realidade do capitalista e as invenções da Revolução Industrial.
1841: Irineu casa com sua sobrinha, Maria Joaquina, "May", com quem tem dezoito filhos, ao longo de quarenta anos, dos quais onze nascem com vida .
1844: Entra em vigor a Lei Alves Branco, que aumentou os impostos de importação sobre produtos estrangeiros, criando dificuldades para as empresas importadoras, como era a Carruthers & Cia. .
1845: Irineu liquida os negócios da Carruthers & Cia.
1846: Iniciou o Estabelecimento de Fundição e Estaleiros Ponta da Areia, para atuar na indústria pesada, fundição, estaleiro e caldeiraria, considerada a maior e mais importante indústria do Brasil em todo o período do Império.
1849–1850: Com embarcações construídas na Ponta da Areia, iniciou a Companhia de Rebocadores Barra do Rio Grande.
1850: Promoveu o encanamento das águas do rio Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro, fornecendo os encanamentos para esse fim.
1851: Fundou a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro, cujo controle deteve até 1855. Organizou o segundo Banco do Brasil.
1852: Fundou as Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas (baseado num contrato de concessão de direitos de exploração por trinta anos), a Companhia Fluminense de Transportes e a Companhia de Estrada de Ferro de Petrópolis (a primeira ferrovia do país, que vai do Porto Estrela, em Guia de Pacobaíba, no município de Magé, até Petropólis).
1853: É um dos principais investidores nas estradas de ferro de Pernambuco (Recife & São Francisco Railway Co.) e da Bahia (Bahia & São Francisco Co.).
1854 (25 de março): Acenderam-se os primeiros lampiões a gás na cidade do Rio de Janeiro.
1854 (30 de abril): Na presença do imperador Pedro II do Brasil e de autoridades, inaugurou o primeiro trecho (14 km) da Estrada de Ferro de Petrópolis, entre o porto de Mauá, na baía de Guanabara, e a estação de Fragoso, na raiz da serra da Estrela (Petrópolis), na então Província do Rio de Janeiro. Na mesma data, recebeu do imperador o título de Barão de Mauá.1
1855–1856: Exerceu o cargo de Suplente de Deputado. No período, criou uma colônia agrícola para trabalhadores na então Província do Amazonas e iniciou as conversações com investidores para a construção de uma ferrovia de Santos a Jundiaí, na então Província de São Paulo.
1855: (30 de abril) Juntamente com 182 investidores formou a Mauá, MacGregor & Cia, Instituição Financeira, que contou com filiais em várias capitais brasileiras e em Londres, Paris, Nova Iorque, Buenos Aires e Montevidéu.
1856: Investiu no Caminho de Ferro da Tijuca, empresa que veio a falir em 1868.
1857: Eleito deputado. As instalações da Ponta da Areia são destruídas por um incêndio criminoso.
1858: Inauguração da Estrada de Ferro Dom Pedro II (depois Estrada de Ferro Central do Brasil).
1860 (3 de dezembro): Tarifa Silva Ferraz que reduziu as taxas de importação sobre as importações de máquinas, ferramentas e ferragens, no Brasil.
1861 (6 de maio): Adquiriu as fazendas Caguassu e Capuava, ao Capitão João José Barbosa Ortiz e suas irmãs Escolástica Joaquina e Catharina Maria, por 22.500 contos de réis. As propriedades, na região de Pilar, freguesia de São Bernardo, estendiam-se de Santo André até Rio Grande da Serra. A sede da fazenda foi demolida em 1974, para a construção do viaduto Juscelino Kubitschek de Oliveira.
1862: Obteve a concessão para a exploração do transporte urbano por bondes na cidade do Rio de Janeiro, organizando a Companhia do Caminho de Carris de Ferro do Jardim Botânico. Os direitos dessa empresa foram transferidos para uma companhia de capital norte-americano, a "Botanical Garden's Railroad" (1866), que inaugurou a primeira linha entre o Jardim Botânico e Botafogo (1868).
1863: Vendeu as suas ações da São Paulo Railway (depois Estrada de Ferro Santos-Jundiaí).
1867 (1 de janeiro): Funda o banco Mauá & Cia. que sucedeu a Mauá, MacGregor & Cia.
1867 (4 de abril): Inauguração da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Início do processo de falência de Mauá.
1871: Investiu na Estrada de Ferro do Paraná.
1872: Iniciou novas colônias agrícolas na Província do Rio de Janeiro. Inauguração do cabo telegráfico submarino.
1874: Organizou a Companhia de Abastecimento de Água do Rio de Janeiro, que operou até 1877.
1874 (26 de junho): Recebe do Imperador Dom Pedro II o título de Visconde, com grandeza, de Mauá.1
1875: Requer, perante o Tribunal de Comércio do Império, moratória aos credores por três anos.
1877: Encerra as atividades da Fundição e Estaleiro da Ponta da Areia.
1878: Publica o artigo O meio circulante do Brasil. Encerra das atividades do Banco Mauá.
1879: Elabora e publica o livro Exposição aos credores e ao público, explicando as razões da moratória e das suas dificuldades financeiras, que levaram as suas principais empresas à falência, estando incluída nessa obra a sua autobiografia.
1882: Os trilhos da Estrada de Ferro de Petrópolis chegam até a cidade de Petrópolis.
1883: Viaja para Londres, tentando encontrar solução para a sua situação financeira.
1884 (26 de novembro): Aos 70 anos de idade, após ter liquidado as dívidas com os seus credores, recebeu carta de reabilitação de comerciante, e passa a exercer a atividade de corretor de mercadorias, especialmente na área do café, mudando-se para Petrópolis.
1889 (21 de outubro): Falece em Petrópolis,já em situação financeira estável, na então Província do Rio de Janeiro, às vésperas da Proclamação da República.